Olá para todos!
Está no ar, desde o mês passado, um novo blog meu, "Professor Digital", tratando do assunto "Inclusão digital do professor".
Aguardo a visita de todos e os seus comentários, críticas e sugestões.
Todo ano, toda escola, todo mês, toda classe, todo dia, todo aluno, tudo muda o tempo todo. E se não mudarmos também, se não acompanharmos as mudanças e nos inserirmos nelas, o mundo nos mudará assim mesmo e nos tornará ultrapassados e obsoletos. É nesse mundo sempre novo e diferente, onde os problemas já não podem ser apenas obstáculos a nos deterem, mas antes de tudo desafios a serem superados, em que ensinar passa a ser uma arte: a arte de estar sempre aprendendo.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
Computadores como ferramentas de aprendizagem
Quando comecei a publicar uma coluna sobre Informática Educacional, lá pelos idos de 1998, eu me lembro que meu primeiro artigo abordava a importância do uso dos computadores como ferramenta de ensino-aprendizagem. Nele eu tentava mostrar que os computadores e a Internet poderiam ser ferramentas poderosas para pesquisa, aprendizagem, interatividade e autoria.
De lá para cá muita coisa mudou no mundo da informática e dos computadores. Vejam, por exemplo, um trecho do texto que eu escrevi naquela época:
“Além dos games e dos bate-papos nos chats da Internet, e eventualmente para se ouvir uma música de CD no multimídia, para que mais servem processadores poderosos, acima de 200 MHz, placas de som sofisticadas, 32 Mb ou mais de memória RAM, HDs de 2 Gb, dispositivos de multimídia de 36X, modens de 33.6 bps, placas de vídeo, etc., etc.? Será que tamanho poder de processamento só serve para joguinhos e bate-papos?”.
Hoje, oito anos depois, estou escrevendo esse texto em um computador com processador de quase 3 GHz, 512 Mb de memória RAM, HD de 80Gb, placa de vídeo de 128 Mb, gravador de DVD, placa de TV, placa de som, e Internet com conexão a cabo de 600 Kbps e, no entanto, essa configuração do meu computador já pode ser considerada “quase obsoleta”. É, o tempo passa rápido quando nos movemos na velocidade da tecnologia.
Relendo meus velhos artigos e confrontando-os com os fatos que observei nas escolas durante essa quase uma década, eu noto claramente que a passagem do tempo não tem o mesmo ritmo quando comparamos a evolução tecnológica e a evolução de nossos processos educacionais. Mas isso não é novidade para ninguém: a escola é uma das instituições mais lerdas que existe quando se trata de implementar mudanças, ainda que, paradoxalmente, ela se proponha a ser um fator gerador de mudanças.
Se por um lado algumas concepções teóricas sobre a educação mudaram razoavelmente ao longo da última década, por outro lado pouco se fez no sentido de se implementar novas metodologias de ensino-aprendizagem. O “Giz e Lousa” continuam sendo, e serão ainda por muito tempo, os “reis do pedaço” quando se fala em educação.
O professor que uma década atrás se espantava diante de um computador ainda é, quase sempre, o mesmo que se sente impotente diante da mesma máquina, quer ela seja mais poderosa ou não. O grande problema da falta de uso educacional dos computadores não parece ser a falta de poder de processamento da máquina, sua falta de utilidade ou mesmo sua complexidade, mas sim a falta de poder de apropriação pedagógica dela por parte de professores e alunos.
Os computadores continuam sendo brinquedos caros, como eu já alertava em 1998. Muitos professores os têm em casa, mas são para o uso dos filhos e não deles mesmos. E esses, que segundo a crença popular vigente entre muitos professores, são os “expertises das novas tecnologias”, continuam fazendo o que toda criança ou adolescente faz durante o seu enorme tempo de ócio: brincam com seus brinquedos.
Não acredito, sinceramente, que alguma criança ou adolescente (e mesmo muitos adultos) vá abrir mão de seu brinquedo e transformá-lo em ferramenta de estudo e aperfeiçoamento educacional por conta própria. Essa tarefa transformadora não cabe aos alunos, mas sim a nós: educadores. Mas como exigir deles que usem bem o computador e a Internet se nós mesmos não os usamos nem para o bem, nem para o mal? Essa talvez seja a grande e verdadeira questão.
Oficinas de capacitação de professores para o uso pedagógico dos computadores e da Internet são oportunidades raras e valiosas de aprendizagem de novas metodologias e técnicas de ensino-aprendizagem. Mas elas geralmente esgotam-se em si mesmas e ao retornarem para a sala de aula os professores encontrarão a sua frente apenas o velho giz e lousa com os quais já estão muito bem adaptados.
Na rede pública de ensino uma quantidade imensa de alunos nunca usou um computador. São os alunos “digitalmente excluídos”. É preciso incluí-los, pois eles vivem e viverão ainda muitos anos em um mundo todo digital, todo tecnológico. Mas como incluí-los se os próprios professores são percentualmente mais excluídos do que seus alunos? Como levar o “Joãozinho” para a Sala de Informática da escola, onde muitas vezes os computadores estão ganhando poeira, depreciando e tornando-se mais e mais obsoletos a cada dia, se o professor ao chegar em sua própria casa nem nota o computador com o qual o filho se diverte batendo papo no MSN ou lendo seus recados no Orkut?
As novas gerações de professores que estão chegando agora às salas de aula já não têm mais o mesmo sentimento de impotência diante do computador como têm os seus colegas já de final da carreira, mas isso também não está facilitado muito as coisas. Não basta não ter medo do computador, é preciso saber para que ele serve se pretendemos fazer bom uso dele. Professores que só usaram computadores para bater papo na Internet, jogar games ou, quando muito, digitar um texto mal formatado no Word, não são os protótipos ideais de “professores digitais”.
Quem, como professor ou aluno, nunca usou a Internet para fazer uma pesquisa “séria” e não apenas um “copy-past”, não saberá mesmo como ensinar o aluno a fazer uma boa pesquisa. Professores que não aprenderam a aprender e se aperfeiçoar usando os computadores, dificilmente poderão ensinar o que não sabem para outra pessoa.
Na rede pública de ensino há ainda uma demanda enorme de computadores para equipar centenas de escolas que não dispõe de uma Sala de Informática. Em outras tantas escolas os computadores já estão ultrapassados e não dão mais conta de rodarem sistemas operacionais modernos ou mesmo de lidar com a Internet midiática atual. É preciso suprir essas demandas, enfim, as máquinas mudaram, o mundo mudou, embora nas escolas os professores continuem quase os mesmos. Mas é preciso fazer também, e urgentemente, um “upgrade” nos professores e não apenas nas Salas de Informática. Precisamos de “professores digitais”.
Um professor digital, a meu ver, deveria possuir algumas habilidades que lhe permitisse fazer bom uso dos computadores para si mesmo e, por extensão, ser capaz de usá-los de forma produtiva com seus alunos. As “habilidades” que listarei a seguir são discutíveis e não só não resumem todas as habilidades possíveis ou desejáveis, como também não se sabe ao certo quantas seriam necessárias para que se pudesse qualificar alguém como “professor digital”. Arrisco-me, no entanto, a afirmar que quantas mais forem as habilidades possuídas, mais perto se chegará do perfil de um professor digital:
1. Possuir um endereço de e-mail e ler os seus e-mails pelo menos duas vezes por semana (o ideal seria lê-los diariamente);
2. Possuir um blog, um site ou uma página atualizável na Internet onde regularmente se produz, socializa e se confronta seu conhecimento com outras pessoas;
3. Participar ativamente de um ou mais “grupos de discussão”, fórum ou comunidade virtual ligada à sua atividade educacional;
4. Possuir algum programa de troca de mensagens on-line, como o MSN, com, no mínimo, dois colegas de profissão em sua “lista de contatos” e usá-lo para fins profissionais pelo menos uma vez por semana, em média;
5. Assinar algum periódico on-line (mesmo que gratuito) sobre notícias e novidades relacionadas à educação ou à sua disciplina específica, e lê-lo regularmente;
6. Preparar rotineiramente provas, resumos, tabelas, roteiros e materiais didáticos diversos usando um processador de textos (como o Word, por exemplo), uma planilha eletrônica (como o Excel) ou um programa de apresentações multimídia (como o PowerPoint);
7. Fazer pesquisa na Internet regularmente com vistas à preparação de suas aulas (no mínimo) e, preferencialmente, manter um banco de dados de sites úteis para sua disciplina e para a educação em geral. Melhor ainda seria compartilhar esse banco de dados com colegas e alunos;
8. Preparar pelo menos uma aula por bimestre sobre um tema de sua disciplina onde os alunos usarão os computadores e a Sala de Informática de forma produtiva e não apenas para “matar o tempo”;
9. Manter contato com o computador por, pelo menos, uma hora diária, em média.
10. Manter-se atento para as novas possibilidades de uso pedagógico das novas tecnologias que surgem continuamente e tentar implementar novas metodologias em suas aulas.
Note que na lista acima não foi incluída em nenhum item a necessidade de se “possuir um computador”, porque de fato não é preciso possuir algum para ser um professor digital, ou mesmo para incluir-se digitalmente. No entanto, muitos professores que conheço possuem computadores e acesso à Internet, mas não chegam a ter nem três das dez habilidades listadas acima.
Todas as habilidades acima envolvem o “fazer”, o agir, a inclusão efetiva do professor no mundo digital. Nenhuma oficina de capacitação ou curso de computação, por si só, traz nenhuma das habilidades acima, pois todas elas demandam o “uso regular do computador e da Internet”. No entanto, não é difícil perceber que as habilidades acima são desejáveis a qualquer professor que queira usar os computadores e a Internet como ferramenta de ensino-aprendizagem.
Aproveite então e faça você mesmo o teste para medir o quanto você se enquadra no perfil do professor digital. Some um ponto para cada item dessa lista que se aplicar a você. Caso você some mais que cinco pontos já pode se considerar como parte da vanguarda dos professores digitais.
De lá para cá muita coisa mudou no mundo da informática e dos computadores. Vejam, por exemplo, um trecho do texto que eu escrevi naquela época:
“Além dos games e dos bate-papos nos chats da Internet, e eventualmente para se ouvir uma música de CD no multimídia, para que mais servem processadores poderosos, acima de 200 MHz, placas de som sofisticadas, 32 Mb ou mais de memória RAM, HDs de 2 Gb, dispositivos de multimídia de 36X, modens de 33.6 bps, placas de vídeo, etc., etc.? Será que tamanho poder de processamento só serve para joguinhos e bate-papos?”.
Hoje, oito anos depois, estou escrevendo esse texto em um computador com processador de quase 3 GHz, 512 Mb de memória RAM, HD de 80Gb, placa de vídeo de 128 Mb, gravador de DVD, placa de TV, placa de som, e Internet com conexão a cabo de 600 Kbps e, no entanto, essa configuração do meu computador já pode ser considerada “quase obsoleta”. É, o tempo passa rápido quando nos movemos na velocidade da tecnologia.
Relendo meus velhos artigos e confrontando-os com os fatos que observei nas escolas durante essa quase uma década, eu noto claramente que a passagem do tempo não tem o mesmo ritmo quando comparamos a evolução tecnológica e a evolução de nossos processos educacionais. Mas isso não é novidade para ninguém: a escola é uma das instituições mais lerdas que existe quando se trata de implementar mudanças, ainda que, paradoxalmente, ela se proponha a ser um fator gerador de mudanças.
Se por um lado algumas concepções teóricas sobre a educação mudaram razoavelmente ao longo da última década, por outro lado pouco se fez no sentido de se implementar novas metodologias de ensino-aprendizagem. O “Giz e Lousa” continuam sendo, e serão ainda por muito tempo, os “reis do pedaço” quando se fala em educação.
O professor que uma década atrás se espantava diante de um computador ainda é, quase sempre, o mesmo que se sente impotente diante da mesma máquina, quer ela seja mais poderosa ou não. O grande problema da falta de uso educacional dos computadores não parece ser a falta de poder de processamento da máquina, sua falta de utilidade ou mesmo sua complexidade, mas sim a falta de poder de apropriação pedagógica dela por parte de professores e alunos.
Os computadores continuam sendo brinquedos caros, como eu já alertava em 1998. Muitos professores os têm em casa, mas são para o uso dos filhos e não deles mesmos. E esses, que segundo a crença popular vigente entre muitos professores, são os “expertises das novas tecnologias”, continuam fazendo o que toda criança ou adolescente faz durante o seu enorme tempo de ócio: brincam com seus brinquedos.
Não acredito, sinceramente, que alguma criança ou adolescente (e mesmo muitos adultos) vá abrir mão de seu brinquedo e transformá-lo em ferramenta de estudo e aperfeiçoamento educacional por conta própria. Essa tarefa transformadora não cabe aos alunos, mas sim a nós: educadores. Mas como exigir deles que usem bem o computador e a Internet se nós mesmos não os usamos nem para o bem, nem para o mal? Essa talvez seja a grande e verdadeira questão.
Oficinas de capacitação de professores para o uso pedagógico dos computadores e da Internet são oportunidades raras e valiosas de aprendizagem de novas metodologias e técnicas de ensino-aprendizagem. Mas elas geralmente esgotam-se em si mesmas e ao retornarem para a sala de aula os professores encontrarão a sua frente apenas o velho giz e lousa com os quais já estão muito bem adaptados.
Na rede pública de ensino uma quantidade imensa de alunos nunca usou um computador. São os alunos “digitalmente excluídos”. É preciso incluí-los, pois eles vivem e viverão ainda muitos anos em um mundo todo digital, todo tecnológico. Mas como incluí-los se os próprios professores são percentualmente mais excluídos do que seus alunos? Como levar o “Joãozinho” para a Sala de Informática da escola, onde muitas vezes os computadores estão ganhando poeira, depreciando e tornando-se mais e mais obsoletos a cada dia, se o professor ao chegar em sua própria casa nem nota o computador com o qual o filho se diverte batendo papo no MSN ou lendo seus recados no Orkut?
As novas gerações de professores que estão chegando agora às salas de aula já não têm mais o mesmo sentimento de impotência diante do computador como têm os seus colegas já de final da carreira, mas isso também não está facilitado muito as coisas. Não basta não ter medo do computador, é preciso saber para que ele serve se pretendemos fazer bom uso dele. Professores que só usaram computadores para bater papo na Internet, jogar games ou, quando muito, digitar um texto mal formatado no Word, não são os protótipos ideais de “professores digitais”.
Quem, como professor ou aluno, nunca usou a Internet para fazer uma pesquisa “séria” e não apenas um “copy-past”, não saberá mesmo como ensinar o aluno a fazer uma boa pesquisa. Professores que não aprenderam a aprender e se aperfeiçoar usando os computadores, dificilmente poderão ensinar o que não sabem para outra pessoa.
[Na figura acima o professor Suez confronta a velha “papeleta de notas” com a moderna planilha de notas eletrônicas em um projeto de informatização desenvolvido na EE Neuza Maria Nazatto de Carvalho.]
Na rede pública de ensino há ainda uma demanda enorme de computadores para equipar centenas de escolas que não dispõe de uma Sala de Informática. Em outras tantas escolas os computadores já estão ultrapassados e não dão mais conta de rodarem sistemas operacionais modernos ou mesmo de lidar com a Internet midiática atual. É preciso suprir essas demandas, enfim, as máquinas mudaram, o mundo mudou, embora nas escolas os professores continuem quase os mesmos. Mas é preciso fazer também, e urgentemente, um “upgrade” nos professores e não apenas nas Salas de Informática. Precisamos de “professores digitais”.
Um professor digital, a meu ver, deveria possuir algumas habilidades que lhe permitisse fazer bom uso dos computadores para si mesmo e, por extensão, ser capaz de usá-los de forma produtiva com seus alunos. As “habilidades” que listarei a seguir são discutíveis e não só não resumem todas as habilidades possíveis ou desejáveis, como também não se sabe ao certo quantas seriam necessárias para que se pudesse qualificar alguém como “professor digital”. Arrisco-me, no entanto, a afirmar que quantas mais forem as habilidades possuídas, mais perto se chegará do perfil de um professor digital:
1. Possuir um endereço de e-mail e ler os seus e-mails pelo menos duas vezes por semana (o ideal seria lê-los diariamente);
2. Possuir um blog, um site ou uma página atualizável na Internet onde regularmente se produz, socializa e se confronta seu conhecimento com outras pessoas;
3. Participar ativamente de um ou mais “grupos de discussão”, fórum ou comunidade virtual ligada à sua atividade educacional;
4. Possuir algum programa de troca de mensagens on-line, como o MSN, com, no mínimo, dois colegas de profissão em sua “lista de contatos” e usá-lo para fins profissionais pelo menos uma vez por semana, em média;
5. Assinar algum periódico on-line (mesmo que gratuito) sobre notícias e novidades relacionadas à educação ou à sua disciplina específica, e lê-lo regularmente;
6. Preparar rotineiramente provas, resumos, tabelas, roteiros e materiais didáticos diversos usando um processador de textos (como o Word, por exemplo), uma planilha eletrônica (como o Excel) ou um programa de apresentações multimídia (como o PowerPoint);
7. Fazer pesquisa na Internet regularmente com vistas à preparação de suas aulas (no mínimo) e, preferencialmente, manter um banco de dados de sites úteis para sua disciplina e para a educação em geral. Melhor ainda seria compartilhar esse banco de dados com colegas e alunos;
8. Preparar pelo menos uma aula por bimestre sobre um tema de sua disciplina onde os alunos usarão os computadores e a Sala de Informática de forma produtiva e não apenas para “matar o tempo”;
9. Manter contato com o computador por, pelo menos, uma hora diária, em média.
10. Manter-se atento para as novas possibilidades de uso pedagógico das novas tecnologias que surgem continuamente e tentar implementar novas metodologias em suas aulas.
Note que na lista acima não foi incluída em nenhum item a necessidade de se “possuir um computador”, porque de fato não é preciso possuir algum para ser um professor digital, ou mesmo para incluir-se digitalmente. No entanto, muitos professores que conheço possuem computadores e acesso à Internet, mas não chegam a ter nem três das dez habilidades listadas acima.
Todas as habilidades acima envolvem o “fazer”, o agir, a inclusão efetiva do professor no mundo digital. Nenhuma oficina de capacitação ou curso de computação, por si só, traz nenhuma das habilidades acima, pois todas elas demandam o “uso regular do computador e da Internet”. No entanto, não é difícil perceber que as habilidades acima são desejáveis a qualquer professor que queira usar os computadores e a Internet como ferramenta de ensino-aprendizagem.
Aproveite então e faça você mesmo o teste para medir o quanto você se enquadra no perfil do professor digital. Some um ponto para cada item dessa lista que se aplicar a você. Caso você some mais que cinco pontos já pode se considerar como parte da vanguarda dos professores digitais.
sábado, 2 de setembro de 2006
Duas cenas em um teatro de espanto
Cena 1:
Estou lá, sentadinho como bom papai cumpridor de suas obrigações festivas, assistindo tranquilamente à peça "O sumiço dos papais", encenada pelas criancinhas da escolinha onde meu filho faz o "Jardim II". No meio delas o meu pequeno gene replicante parece feliz e orgulhoso de si mesmo.
De repente a peça é interrompida. O narrador anuncia que o sumiço dos papais foi tão preocupante que saiu até no noticiário da escolinha. Um grande telão desce do teto, as luzes se apagam e... Pimba! Eis que surge meu pequeno menino lendo uma notícia como se fosse gente grande.
Engasga em algumas palavras, não acompanha exatamente a sonoridade das frases e, ao final, não sabe o que fazer quando o texto termina. Mas, por Tutatis, ele só tem cinco anos!
Confesso, espantei-me.
Meu lado arrogante e presunçoso admite tranqüilamente a possibilidade de que ele seja tão genial quanto os pais dele, mas há um outro lado meu que me diz que talvez ele seja apenas tão brilhante quanto qualquer outro que tenha à sua disposição livros, revistas, brinquedos, liberdade, incentivo e uma infância relativamente feliz.
Nós nunca o forçamos a ler nada, não exigimos tarefas e atividades, não impomos rigorosos horários de "estudo" ou "disciplina". Tudo o que fizemos até agora foi lhe dar a liberdade de escolher e um merecido sorriso sempre que suas escolhas nos parecem boas. E assim, sendo livre para aprender, ele aprendeu por escolha própria. Aprendeu e compreendeu que aprender é bom.
Cena 2:
Estou no supermercado, na seção de higiene pessoal, tentando encontrar uma escova de dentes nova. Sou abordado por uma senhora, já do alto dos seus sessenta ou setenta anos. Talvez menos, pois as rugas medem mais o sofrimento do que os anos de vida.
Ela traz na mão um vidrinho de sal-de-frutas e nos olhos tímidos uma pergunta relutante, envergonhada, quase triste: esse é o...?
Sim, respondo a ela, é o sal-de-frutas ENO. A embalagem mudou, mas é o mesmo sal-de-frutas.
Ela olha de novo para as letrinhas. Lhe parecem mesmo familiar, mas ela precisava ter certeza. Sua memória já não deve ser das melhores e com a nova embalagem diferente a certeza já não existe mais. Era preciso ler para saber. Era preciso se informar para acompanhar as mudanças.
Três letras, um nome simples, uma marca conhecida. Uma vida inteira rendendo-se cabisbaixa diante de três míseras letras.
Confesso, espantei-me novamente.
Nesse teatro do espanto há duas impossibilidades possíveis: de um lado um garoto de cinco anos que aprende "quase sozinho" a ler frases inteiras e compreender o sentido delas, do outro uma senhora que não consegue juntar três letras para reconhecer um nome simples.
Há algo de muito errado aqui. Se um garoto de cinco anos exposto à um bom punhado de estímulos pode aprender a ler quase sozinho, o que fez então com que aquela senhora passasse toda uma vida sem aprender a juntar três letras formando um simples nome?
Meu garoto já pode escolher pela marca os produtos que quiser, já pode ler placas de ônibus, de ruas, cartazes, etc. Já faz palavras cruzadas e está aprendendo a encontrar o significado das palavras desconhecidas usando para isso um dicionário. Mas aquela senhora não pode andar de ônibus, não pode achar o nome de uma rua em uma placa, não pode sequer comprar um sal-de-frutas. Como pudemos admitir que essa situação existisse e ainda persista? Qual não deve ser nossa vergonha? Certamente deve ser muito maior do que a dela. Eu, pelo menos, não sei onde pôr minha cara.
Estou lá, sentadinho como bom papai cumpridor de suas obrigações festivas, assistindo tranquilamente à peça "O sumiço dos papais", encenada pelas criancinhas da escolinha onde meu filho faz o "Jardim II". No meio delas o meu pequeno gene replicante parece feliz e orgulhoso de si mesmo.
De repente a peça é interrompida. O narrador anuncia que o sumiço dos papais foi tão preocupante que saiu até no noticiário da escolinha. Um grande telão desce do teto, as luzes se apagam e... Pimba! Eis que surge meu pequeno menino lendo uma notícia como se fosse gente grande.
Engasga em algumas palavras, não acompanha exatamente a sonoridade das frases e, ao final, não sabe o que fazer quando o texto termina. Mas, por Tutatis, ele só tem cinco anos!
Confesso, espantei-me.
Meu lado arrogante e presunçoso admite tranqüilamente a possibilidade de que ele seja tão genial quanto os pais dele, mas há um outro lado meu que me diz que talvez ele seja apenas tão brilhante quanto qualquer outro que tenha à sua disposição livros, revistas, brinquedos, liberdade, incentivo e uma infância relativamente feliz.
Nós nunca o forçamos a ler nada, não exigimos tarefas e atividades, não impomos rigorosos horários de "estudo" ou "disciplina". Tudo o que fizemos até agora foi lhe dar a liberdade de escolher e um merecido sorriso sempre que suas escolhas nos parecem boas. E assim, sendo livre para aprender, ele aprendeu por escolha própria. Aprendeu e compreendeu que aprender é bom.
Cena 2:
Estou no supermercado, na seção de higiene pessoal, tentando encontrar uma escova de dentes nova. Sou abordado por uma senhora, já do alto dos seus sessenta ou setenta anos. Talvez menos, pois as rugas medem mais o sofrimento do que os anos de vida.
Ela traz na mão um vidrinho de sal-de-frutas e nos olhos tímidos uma pergunta relutante, envergonhada, quase triste: esse é o...?
Sim, respondo a ela, é o sal-de-frutas ENO. A embalagem mudou, mas é o mesmo sal-de-frutas.
Ela olha de novo para as letrinhas. Lhe parecem mesmo familiar, mas ela precisava ter certeza. Sua memória já não deve ser das melhores e com a nova embalagem diferente a certeza já não existe mais. Era preciso ler para saber. Era preciso se informar para acompanhar as mudanças.
Três letras, um nome simples, uma marca conhecida. Uma vida inteira rendendo-se cabisbaixa diante de três míseras letras.
Confesso, espantei-me novamente.
Nesse teatro do espanto há duas impossibilidades possíveis: de um lado um garoto de cinco anos que aprende "quase sozinho" a ler frases inteiras e compreender o sentido delas, do outro uma senhora que não consegue juntar três letras para reconhecer um nome simples.
Há algo de muito errado aqui. Se um garoto de cinco anos exposto à um bom punhado de estímulos pode aprender a ler quase sozinho, o que fez então com que aquela senhora passasse toda uma vida sem aprender a juntar três letras formando um simples nome?
Meu garoto já pode escolher pela marca os produtos que quiser, já pode ler placas de ônibus, de ruas, cartazes, etc. Já faz palavras cruzadas e está aprendendo a encontrar o significado das palavras desconhecidas usando para isso um dicionário. Mas aquela senhora não pode andar de ônibus, não pode achar o nome de uma rua em uma placa, não pode sequer comprar um sal-de-frutas. Como pudemos admitir que essa situação existisse e ainda persista? Qual não deve ser nossa vergonha? Certamente deve ser muito maior do que a dela. Eu, pelo menos, não sei onde pôr minha cara.
Assinar:
Postagens (Atom)