quarta-feira, 24 de março de 2010

Mais uma fábula do Prof. Giz & Tal

Os olhos ainda estavam pregados de sono quando o Prof. Giz & Tal foi acordado pelo canto do galo. Do galo??? Não há mais galos nessa vizinhança...

Pela janela, além do sol forte do fim do verão, a paisagem estava toda mudada. Parecia toda envelhecida. Como poderia ter ocorrido isso? Só poderia ser um sonho! Belisca aqui, belisca ali e, nada! Doeu, mas a paisagem ainda estava lá.

Angustiado nosso querido professor correu procurar seu jaleco no armário e apressou-se rumo à escola. A escola era sua única referência desde sempre. Haveria ainda escola nesse seu pesadelo?

Sim, havia escola!

Que felicidade! Ela estava lá, e era praticamente igual à sua, exceto por não ter muita iluminação, ter um cheiro forte de mofo e umas pessoas estranhas que ele nunca havia notado antes.

- Anda logo pirralho! Gritou o professor com a varinha de marmelo em punho.

- Tinha que ser o Gizinho a chegar atrasado novamente, não? E tome varada de marmelo na bunda.

Totalmente sem saber o que fazer, e percebendo agora que seu jaleco era de aluno e não de professor, nosso amado mestre adentrou assustado ao sacrossanto recinto do saber.

Diante de si uma sala relativamente grande e mal arejada, carteiras de madeira enfileiradas, todos sentados e calados olhando para um enorme quadro verde com alguns rabiscos mal escritos com giz. Sobre a mesa um grande caderno de anotações manuscritas e atrás dela uma figura sombria e autoritária empunhando não mais uma varinha de marmelo, mas sim um ícone da tecnologia pedagógica que ele mesmo, nosso Prof. Giz & Tal, já chegou a afirmar um dia ter saudades: uma Palmatória!

- Gizinho, venha cá e traga a sua lição de casa! Bradou o professor.

- Mas, mas...

- O quê? Você não fez a lição?! 

Aquela imensa figura cresceu então sob seus olhos e aproximou-se com passos firmes...

- Seu merdinha, você não fez a lição de casa? Como ousa?! Quem você pensa que é? O que mais tem feito além de estudar o que eu mando? Dê-me aqui essa mão inútil que só vai servir para amassar barro no seu futuro sem futuro, seu fedelho miserável e imprestável!

Dez palmadas depois...

Trrrrim... Chacoalha o velho despertador. Assustado o Prof. Giz & Tal pula da cama e abre a janela... Ufa! Foi só um sonho! Não há galos e nem paisagens estranhas.

Apressado abre a porta do velho guarda-roupa e encontra seu jaleco, e ele é de professor! Toma seu café rapidinho, pega sua caderneta e seu velho caderno de matérias, onde tem anotado todas as aulas. Quase esqueceu da caixa de giz. Feliz tomou o rumo da escola, sua única referência, e agradeceu por ter sido apenas um sonho improvável de uma escola que não existe mais.


(*) Esta fábula se baseia no mesmo personagem criado no artigo "E agora, mestre Giz?", publicado no meu blog Professor Digital. Se tiver um tempinho a mais, dê uma olhada também nesse artigo.